Professor do CEUB afirma que as divisões internas na Rússia são as principais motivações para o evento
A crise internacional e o contexto que envolve a recente tentativa de golpe militar na Rússia é analisada por Luciano Muñoz, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília (CEUB). Segundo ele, embora o grupo privado seja uma entidade independente, tem sido indiretamente vinculado ao governo russo, realizando operações em países como África, Síria e Ucrânia. A ação remonta o início da guerra na Ucrânia e a anexação da Crimeia por parte da Rússia em 2014.
“O Prigozhin, um aliado próximo do presidente Putin e ex-dono de restaurantes, tornou-se líder do Grupo Wagner e prestou apoio aos separatistas pró-russos na região de Donbass, no leste da Ucrânia. Durante esse período, o exército russo não se envolveu diretamente no conflito, mas incentivou a guerra civil e o separatismo por meio do grupo de mercenários.”
Para o docente de Relações Internacionais do CEUB, o Grupo Wagner gradualmente acumulou poder e recursos ao longo dos anos, liderando várias batalhas e conquistando territórios na Ucrânia. Prigozhin também controla uma rede de hackers, evidenciando o seu poder e conhecimento sobre segredos do governo russo. “As relações entre Prigozhin e Putin começaram a deteriorar quando o líder do grupo se queixou da falta de apoio e do tratamento injusto que estava recebendo das Forças Armadas Russas”, analisa o especialista.
No recente golpe, Muñoz explica que o Grupo Wagner avançou em direção a Moscou, tomando a região de Rostov e ameaçando a capital russa. Inicialmente, o professor acredita que o objetivo do golpe era derrubar figuras-chave do governo russo, incluindo o ministro da defesa e o chefe do estado maior, mas o golpe foi interrompido quando Lukashenko, ditador aliado de Putin, intermediou um acordo com Prigozhin, garantindo sua liberdade em troca de desistir do avanço militar.
Segundo o professor do CEUB, a atitude de Putin diante do golpe tem levantado questões sobre sua possível fraqueza política. Embora o líder russo tenha inicialmente prometido punir Prigozhin e outros envolvidos, nenhum deles foi detido ou julgado. “Isso indica um enfraquecimento do poder de Putin e uma quebra de suas promessas”, frisa.
Sobre as especulações envolvendo a tentativa de golpe, inclusive através da mídia estatal russa, como a Sputnik, Luciano Muñoz afirma que alguns relatos sugerem que os Estados Unidos e a OTAN teriam estimulado Prigozhin a realizar o golpe de estado. “Essa narrativa busca desviar a atenção do problema interno e responsabilizar agentes externos, mas ainda não há evidências concretas de uma conexão entre os Estados Unidos, a OTAN e o golpe de estado. O presidente Biden negou qualquer envolvimento americano”, explica.
Destino do Grupo Wagner
O professor do CEUB acredita que o destino das tropas do Grupo Wagner que estão na Ucrânia é uma incerteza. Para ele, será importante determinar se eles continuarão lutando e como se relacionarão com as forças regulares. “O poder de Prigozhin pode diminuir ou aumentar em relação ao Grupo Wagner, dependendo de acordos ou integrações futuras”, prevê.O especialista ainda aponta outros cenários possíveis: “Pode ser que Prigozhin seja eliminado e Putin permaneça no comando, ou que Prigozhin fortaleça sua posição e imponha condições favoráveis ao Grupo Wagner com o apoio do governo russo. A situação na Rússia é problemática, especialmente considerando os desafios enfrentados na guerra com a Ucrânia. Essa turbulência tende a enfraquecer o poder político de Putin e pode afetar as operações militares russas”, completa.