Pela primeira vez desde 2020, RN não tem mais internados com Covid

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Um homem de 73 anos, cardiopata e com esquema vacinal incompleto foi o último potiguar internado em decorrência da Covid-19 a receber alta. Ele estava em leito no hospital Giselda Trigueiro e recebeu alta na noite da terça-feira (15). É a primeira vez, desde 2020, que não há nenhum internado na rede pública de Saúde do Estado em decorrência da Covid-19.

André Prudente, diretor do Giselda Trigueiro, Foto: Alex Régis / Tribuna do Norte
“Enquanto alguns países estão aplicando a quarta dose em alguns grupos, há nações onde nem 20% da  população foi vacinada. Nesses locais, existem maiores chances de surgimento de novas variantes”, analisa o infectologista André Prudente, diretor do Hospital Giselda Trigueiro, unidade referência em tratamento para a covid-19 no Rio Grande do Norte.
As diversas linhagens que podem surgir em meio à pandemia e a ausência de vacinação em determinadas regiões são fatores que dificultam uma previsão mais acertada sobre a crise sanitária em 2022. O epidemiologista Ion de Andrade usa o exemplo da Inglaterra para descrever como a falta de imunização pode provocar impactos no cenário global.
“O contingente de não vacinados na Inglaterra é de aproximadamente 30%.  Isso é suficiente para produzir repiques importantes. O país, inclusive, vem batendo recordes de casos novos, mesmo com uma população percentualmente mais vacinada do que a do Brasil”, aponta.
Se o número de não vacinados pode provocar repiques, por outro lado, o quantitativo de imunizados pode ser determinante para a forma como a doença vai se comportar em uma localidade, já que a vacinação não impede o contágio, mas reduz a possibilidade de agravamento da doença.
“A mortalidade e os internamentos na Inglaterra, de forma proporcional, continuam pequenos por conta da vacinação, uma vez que parte desses casos acontece em pessoas imunizadas, com sintomas leves. Entretanto, ainda assim, a situação é motivo de atenção”, comenta Ion de Andrade.
“O fato de termos uma situação melhor mesmo com uma vacinação inferior, significa que os riscos existem também no Brasil, que pode sofrer repiques importantes, principalmente em torno da população não vacinada. E isso, logicamente, pode novamente, pressionar os leitos”, alerta o epidemiologista em seguida.
Para o médico e professor  do Departamento de Infectologia da UFRN,  Kleber Luz, as preocupações giram exatamente em torno do surgimento das novas variantes, mesmo diante de um cenário onde elas não tenham mostrado tanta resistência às vacinas, como acontece até o momento.
“As variantes são vírus novos e representam uma ‘nova doença’. No caso da  Ômicron, há um caráter de alta transmissibilidade . Isso significa um pico de casos. A previsão otimista é que, no Brasil, muita gente já está vacinada parcialmente ou completamente. A perspectiva é boa nesse sentido”, afirma.
No entanto, a opção, segundo ele, é não relaxar no próximo ano. “Para 2022, devemos seguir aquele princípio bíblico: orar e vigiar. A Ômicron tem uma alta capacidade de produzir a doença. É possível um aumento de casos, principalmente, nos meses de março e abril, quando as temperaturas caem e as chances de transmissão aumentam”, explica o infectologista.
André Pudente, do Hospital Giselda Trigueiro está otimista, especialmente se os investimentos em vacinação avançarem em 2022. “A gente espera que o número de casos diminua drasticamente nos locais onde a vacinação tem ocorrido de maneira eficaz, a ponto de tornar a covid uma doença que possa acontecer uma vez ou outra”, aponta.
Entenda a diferença entre gripe e covid-19
Os sintomas de gripe e de covid-19 provocam muita confusão pela semelhança que há entre eles: tosse, febre, coriza, dor de garganta, dor de cabeça, dentre outros. A diferença, segundo os especialistas ouvidos pela TRIBUNA DO NORTE, está na duração desses sinais e na intensidade com que eles se dão ao longo da durabilidade de ambas as doenças.
A gripe é uma doença súbita, ou seja, os sintomas mais graves aparecem logo no início. “Já nas primeiras 24 horas, a gripe costuma provocar muita febre e dor muscular (mialgia). Conjuntamente ou mais 24 horas depois, podem vir sintomas respiratórios, que provocam tosse, espirro, coriza e dor de garganta”, explica o médico infectologista, Kleber Luz.
“Na covid, a primeira semana costuma ser leve, mesmo nos casos que venham a se agravar, o que geralmente acontece a partir da segunda semana”, esclarece o epidemiologista Ion de Andrade. A febre, no casos de Influenza, costuma desaparecer em torno de dois a três dias, enquanto na covid, ela pode durar até 10 dias. Outro fator importante é a ausência total de sentidos como olfato e paladar, em se tratando da infecção por covid-19. Esses sintomas geralmente são leves em casos de gripe.
Outra diferença entre as duas doenças está nos grupos de risco que cada uma acomete, conforme descreve o médico André Prudente. “A Influenza é mais antiga, então, os grupos de risco aí são mais definidos: crianças e idosos, pessoas com comorbidades  respiratórias, como  asma, bronquite e enfisema, tendem a sofrer mais”, detalha.
“Gestantes, puérperas, populações indígenas e quilombolas, têm menor resistência à gripe do que outras parcelas da população”, complementa o epidemiologista Ion de Andrade. Já a covid-19, segundo André Prudente, apresenta maior risco para idosos,  diabéticos, obesos e hipertensos. Os tratamentos apresentam diferenças, mas em geral, a indicação para ambas as doenças é repouso, hidratação e controle dos sintomas, em casos leves.
Gravidade
“Para a covid-19, em primeiro lugar, é preciso  estabelecer o nível de gravidade – se é leve, moderado, ou crítico. Neste último caso, o paciente é levado para o hospital, onde vai usar uma dose básica de corticoide e outros tratamentos que são muito específicos. Mas, até que ele faça uma forma grave, não se recomenda nenhum medicamento”, orienta Kleber Luz.
“Na maioria dos casos, o tratamento é de suporte, com hidratação, repouso e o controle dos sintomas, como o alívio da febre e da dor de cabeça. Para a Influenza existe um medicamento específico, que, a depender do caso, o médico vai prescrever. Nos casos que precisem de internação, o médico também indicará o tratamento específico”, explica André Prudente.
Em qualquer situação, a melhor escolha é sempre a prevenção, que nos dois casos, é igual: uso de máscaras, higienização das mãos com álcool em gel e sabão, e distanciamento físico, segundo os especialistas.