Autor lança livro em Natal sobre pesquisa de violência e relação com o crime de jovens na comunidade paulista

Psicólogo pesquisa por cinco anos histórias de violência e relação

 com o crime na comunidade paulista de jovens até 19 anos

Dar voz aos adolescentes de Heliópolis em conflito com a lei. E criar uma ponte entre o grande “apartheid” de desigualdades sociais para mostrar os motivos pelos quais eles entram na vida do crime e suas perspectivas de futuro. Essa é a proposta do livro do psicólogo Ricardo Rentes, “Os meninos de Heliópolis – o ser e fazer de adolescentes em conflito com a lei e a sintomática criminal”. Resultado do seu trabalho de mestrado em Ciências Humanas, Sociais e Criminologia na UFP do Porto – Portugal, o autor realizou pesquisa de campo na maior comunidade de São Paulo durante cinco anos, histórias de violência vivenciadas por esses meninos entre 12 a 19 anos, todos do sexo masculino e em acompanhamento de medidas socioeducativas. O lançamento será no próximo dia 22/09, às 15h, no III Congresso Internacional de Psicologia Jurídica e Direito Penal em Natal (RN), no Praiamar Natal Hotel & Convention, em Ponta Negra.

Atuação violenta da polícia e violação de direitos humanos frequentes marcam a pesquisa de Ricardo Rentes, que é pós-graduado em Psicopatologia e Saúde Pública pela Universidade de São Paulo – USP e professor do curso de especialização em Psicologia Jurídica pelo Centro Universitário São Camilo. O trabalho também traz constatação de uma realidade chocante:  com projeção de vida muito curta, entre 20 e 21 anos, a maioria dos setenta adolescentes que fizeram parte do estudo mostraram que estariam dispostos a seguir com a vida em risco como condição para se sentirem “incluídos” socialmente, mesmo com a possibilidade de sofrerem, serem presos ou até mesmo morrerem.  Com apresentação do deputado estadual Eduardo Suplicy e prefácio do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES – Aloizio Mercadante “Os meninos de Heliópolis”, apresenta uma reflexão teórico-prática sobre os modelos institucionais aplicados às medidas socioeducativas e a inadequação de determinados serviços para a socialização desses jovens.

“A maioria dos adolescentes não traz uma identidade já cristalizada dentro da criminalidade e ainda constitui uma relação frágil com o crime. As pessoas criam um imaginário desses jovens em conflito com a lei muito cruel e violento e que muitas vezes não condiz com a realidade”, diz Rentes.  O Brasil vive grandes desafios no âmbito de medidas socioeducativas aplicadas a adolescentes em conflito com a lei, relata o psicólogo. “Não há um trabalho que de fato evidencie a possibilidade de rompimento com a prática infracional. Vemos um sistema falido por ser um reprodutor de violência. Os adolescentes chegam numa instituição, ficam, por exemplo, até três anos, o tempo máximo de reclusão, que varia de acordo com o tipo de ato infracional. Eles vivem em modelo prisional, cultura de punição e de violação de direitos muito enraizados. O trabalho já é fadado ao fracasso.  E saem de lá com sentimento de vingança contra a sociedade. É como se o próprio sistema acabasse promovendo o que deveria combater”, completa.

Outro problema grave é que a justiça não tem olhar para cada caso do adolescente infrator. Muitas vezes as metas para cumprimento das medidas são inalcançáveis porque não é levada em conta a realidade em que os meninos vivem. A tríade escola-trabalho-curso profissionalizante como modelo de possível recuperação passa longe da vida de muitos deles, que já estão fora da escola e em trabalhos informais. Além disso, cada ato infracional deveria estar relacionado à medida aplicada, para trazer reflexões e possibilidades de mudanças concretas no comportamento desses jovens, acrescenta. Outro caminho apontado pelo autor com resultados positivos no processo de recuperação e que teve sucesso ao longo de seu trabalho de campo foi lidar com as famílias dos adolescentes, juntamente com as equipes interdisciplinares, de forma menos punitiva e mais compreensiva.

Na pesquisa, Rentes aplicou procedimentos e instrumentos psicológicos projetivos e investigativos com os adolescentes, como o Desenho Estória com Tema e o Discurso do Sujeito Coletivo, ambos procedimentos desenvolvidos e aplicados por pesquisadores renomados do Instituto de Psicologia e da Faculdade de Saúde Pública da USP.  Em 351 páginas, “Os meninos de Heliópolis” apresenta uma metodologia de trabalho profunda e esclarecedora, provocando o leitor a reflexões importantes e uma ampliação do conhecimento para entender o fenômeno da criminalidade juvenil.

Sobre o autor: Ricardo Rentes é Mestre em Ciências Humanas, Sociais e Criminologia pela UFP do Porto – Portugal. Pós-graduado em Psicopatologia e Saúde Pública pela USP. Pós-graduado em Saúde Mental e Justiça pelo Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Prof. André Teixeira Lima – Fundap. Psicólogo, psicanalista, analista clínico-institucional e supervisor na área da assistência social e saúde mental. Professor do curso de especialização em Psicanálise Winnicottiana e professor do curso de especialização em Saúde Mental e Saúde Coletiva na Perspectiva da Clínica Ampliada, ambas pela Universidade Cruzeiro do Sul. Professor do curso de especialização em Psicologia Jurídica pelo Centro Universitário São Camilo.

Sobre a editora:  Este livro foi publicado pela Editora Appris, sediada em Curitiba, Paraná. Há 12 anos no mercado, a Appris atua no ramo de publicação de obras técnicas e científicas nas mais variadas áreas do conhecimento. Com a experiência de seus editores, que estão há 30 anos no mercado editorial, a Appris possui um catálogo com mais de oito mil obras publicadas e que continua a crescer com média de 80 lançamentos por mês.