Missão técnica do SENAI ao Japão abre novas perspectivas para hidrogênio e biocombustíveis

Gustavo Leal, Jefferson Gomes e Rodrigo Mello, do SENAI, em visita ao Terminal de carregamento de hidrogênio líquido da Kawasaki Heavy Industries, Ltd, no Japão: Missão ao país vislumbra novas possibilidades de cooperação internacional nas áreas de hidrogênio verde e biocombustíveis

O diretor do SENAI do Rio Grande do Norte e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Rodrigo Mello, desembarcou do Japão nesta semana com novas perspectivas de cooperação nas áreas de biocombustíveis e também do chamado “hidrogênio verde”. 

“Eu espero que as discussões que tivemos no país gerem muitos frutos para um setor que o mundo está olhando com muito bons olhos”, disse. “Do ponto de vista do ISI, já temos uma cooperação forte com a Alemanha e uma histórica parceria com a Espanha. Também estamos em processo de formalização de acordo com o Canadá e vemos a aproximação e as discussões travadas com o Japão como muito estratégicas nesses campos”, acrescenta. A missão internacional foi promovida pela agência de cooperação japonesa JICA, em conjunto com o SENAI Nacional. 

A programação foi realizada nas cidades de Kobe e Osaka, onde a comitiva da instituição pôde conversar com pesquisadores e indústrias sobre como, na prática, as cadeias produtivas do hidrogênio e dos biocombustíveis estão funcionando no Japão, a evolução do conhecimento na área e ações de desenvolvimento voltadas às atividades.

O Japão é a terceira maior economia do mundo, atrás dos Estados Unidos e da China. Enquanto no Brasil a indústria do hidrogênio verde – o hidrogênio que utiliza energias renováveis no processo de produção – caminha em fase de implantação, no país asiático ela marcha com planos bilionários de investimentos e projetos em áreas diversas já em curso. 

Investimentos

O plano do governo é alcançar a autossuficiência em hidrogênio no mercado japonês até 2050, com investimento de US$ 40 bilhões até 2030. No setor automotivo, o país tem em desenvolvimento projetos como um caminhão movido a hidrogênio verde na Toyota e uma planta de aço que usa hidrogênio verde como combustível, na Mitsubishi. 

A empresa Kawasaki Heavy Industries, visitada pela comitiva brasileira durante a Missão, tem planos, por sua vez, de construção de uma usina de energia a hidrogênio verde nos próximos anos. O projeto está em desenvolvimento e não é a única investida da companhia. 

“A Kawasaki trabalha com a logística e com toda a cadeia do hidrogênio, até a distribuição do combustível. Produz hidrogênio na Oceania, na Austrália, faz a liquefação, faz o transporte, tem um porto em Osaka, desenvolve equipamento. É uma gigante e pudemos conversar na prática sobre perspectivas de parceria, que esperamos que avancem”, detalhou Mello, após reunião do SENAI com participação do gerente do grupo na Divisão de Estratégia de Hidrogênio, Hidekazu Iwasaki.

Kawasaki Heavy Industries, visitada pela comitiva brasileira durante a Missão, tem planos de construção de uma usina de energia a hidrogênio verde nos próximos anos

Passagens pelas Universidades de Kobe e Osaka, assim como pela Daigas, uma das principais empresas de energia do Japão, também foram apontadas pelo executivo entre os destaques da viagem. A empresa fornece gás natural para milhões de residências e empresas. Também tem investimentos em pesquisa e desenvolvimento com foco na produção eficiente de hidrogênio e combustíveis derivados, sistemas de armazenamento e distribuição, além de aplicações de células a combustível.

Quando a gente compara conhecimento e nível tecnológico, a conclusão a que chegamos é que o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis está muito bem na fita, com conhecimento para discutir, para gerar novos processos e produtos com o Japão, ou seja, fazer intercâmbio de tecnologia, de conhecimento nessas áreas”, avalia Mello. “Viajamos para tratar de hidrogênio e biocombustíveis e claramente vemos sinergia entre o que eles estão fazendo lá com o que a gente está fazendo aqui”, complementa. 

Potencial

Segundo informações do SENAI, “o uso de hidrogênio verde na indústria no Japão ainda está em estágios iniciais, mas tem potencial de se tornar uma fonte importante de energia no futuro”. O objetivo principal da visita ao país foi discutir o arcabouço da cooperação entre a instituição, no Brasil, e o departamento de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) industrial do país asiático para o fortalecimento da cadeia de fornecimento de hidrogênio; além do uso de hidrogênio na geração de energia; e a P&D para redução de custos de geração, armazenamento e transporte de hidrogênio no Brasil e no Japão. 

Além de discutir o horizonte de parcerias possível na área, negociar oportunidades de colaboração relacionadas à produtividade da indústria brasileira que possam compor um plano de trabalho Brasil-Japão no período 2023-2024 e possibilidades de troca de experiências entre pesquisadores dos dois países também estiveram em pauta. 

“A intenção do Japão é investir 1 trilhão de dólares em desenvolvimento de soluções na área de energias verdes e descarbonização, mas atualmente o foco para parcerias é com a Ásia e Oceania. Vale ressaltar que existem possibilidades com a América Latina”, observa ainda Rodrigo Mello. 

O mercado japonês, observa ele, “tem baixíssima produção de matéria-prima e para o Brasil ter uma grande economia que possa vir a ser grande parceira seja na produção, seja no consumo de produtos chaves para a humanidade, como os biocombustíveis, é estratégico”. 

“Sempre que se fala de cadeia industrial que trabalha com produto de origem biológica o Brasil tem potencial de participação importante de forma internacional, considerando o gigante que é em produção agropecuária. Então vemos que isso precisa e será aproveitado nesse novo momento do ambiente para os combustíveis no mundo”, diz Rodrigo Mello.

A cooperação SENAI-Japão na área de tecnologia para a indústria do hidrogênio foi um dos pontos centrais da agenda durante a Missão internacional

Cooperação

O interesse que originalmente motivou a Missão internacional foi a cooperação SENAI-Japão na área de tecnologia para a indústria do hidrogênio. Uma pauta mais ampla foi construída a partir desse ponto, entretanto, e nela entraram desde produção, tecnologia, encontros tecnológicos e visitas a universidades, até discussões sobre formação de pessoas e estrutura de produção. 

O roteiro da viagem incluiu visitas a indústrias, universidades, centros de tecnologias e outras instituições. Entre as tarefas principais do grupo estavam compreender a cadeia de suprimentos geral de hidrogênio, a tecnologia de geração de energia de hidrogênio e as estratégias de pesquisa e desenvolvimento para o cenário de redução de custos e suas melhores práticas no Japão.

Foram realizadas ainda discussões sobre ações no Japão para acelerar o desenvolvimento de tecnologias relacionadas à descarbonização, incluindo a fabricação de hidrogênio verde, biogás e GLP verde, bem como as tecnologias relacionadas ao hidrogênio.

A programação abrangeu caminhos que possam contribuir para o desenvolvimento da indústria no Brasil, bem como a identificação de áreas de cooperação entre o SENAI e os departamentos de pesquisa e desenvolvimento industrial do Japão, além de discussões do Quadro de Cooperação entre a JICA e o SENAI em PD&I.

Do SENAI Nacional, participaram o diretor de Operações, Gustavo Leal, o diretor de Inovação, Jefferson Gomes, e o especialista em Relações Internacionais, responsável pela internacionalização da Rede de Institutos SENAI de Inovação, Gustavo Rosa. 

Dos departamentos regionais da instituição, integraram o grupo, além de Rodrigo Mello, o diretor regional do SENAI Ceará, Paulo André Holanda, o diretor regional do SENAI São Paulo, Ricardo Figueiredo Terra, o diretor de Tecnologia e Inovação do Senai CIMATEC, Leone Andrade, e o gerente do ISI Biossintético e Fibras,  João Bastos.

Enquanto no Brasil a indústria do hidrogênio verde – o hidrogênio que utiliza energias renováveis no processo de produção – caminha em fase de implantação, no país asiático ela marcha com planos bilionários de investimentos e projetos em áreas diversas já em curso

SAIBA MAIS – Referência

O interesse do SENAI-RN em aprofundar discussões e soluções nessa área não é por acaso. O CTGAS-ER, Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), da instituição, é a referência nacional do SENAI em formação profissional para as indústrias de energia e do gás, além de centro de excelência nacional para soluções de educação que estão em desenvolvimento, com a Alemanha, para a cadeia produtiva do hidrogênio verde.

O Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), por sua vez, é a principal referência do SENAI no Brasil em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (P,D&I) em energia eólica, solar e sustentabilidade, incluindo novas tecnologias, como o hidrogênio verde e combustíveis sintéticos.

Pesquisadores do Instituto estudam e executam projetos envolvendo rotas alternativas de produção – aquelas que não geram emissão de carbono no processo industrial – há mais de 10 anos. 

Em um dos projetos atuais, o hidrogênio é um dos insumos para a produção de combustível sustentável de aviação. Em outro, são mapeados aspectos como gargalos tecnológicos, potenciais de produção e mercado. 

Trabalhos do ISI-ER nesse campo incluem o desenvolvimento de pesquisas em produção e distribuição de hidrogênio renovável, além do desenvolvimento de modelos matemáticos para avaliações econômicas dos recursos e otimização da logística de produção e distribuição do produto.